22 de set. de 2012

ESTE RECADO É PARA VOCÊ!!!!!!!!




Eu te compreendo

Eu sei das tuas tensões, dos teus vazios e da tua inquietude. Eu sei da luta que tens travado à procura de Paz. Sei também das tuas dificuldades para alcançá-la. Sei das tuas quedas, dos teus propósitos não cumpridos, das tuas vacilações e dos teus desânimos. Eu te compreendo...

Imagino o quanto tens tentado para resolver as tuas preocupações profissionais, familiares, afetivas, financeiras e sociais. Imagino que o mundo, de vez em quando, parece-te um grande peso que te sentes obrigado a carregar. E tantas vezes, sem medir esforços. Eu conheço as tuas dúvidas, as dúvidas da natureza humana.

Percebo como te sentes pequeno quando teus sonhos acalentados vão por terra, quando tuas expectativas não são correspondidas. E essas inseguranças com o amanhã? E aquela inquietação atroz em não saberes se amanhã as pessoas que hoje te rodeiam ainda estarão contigo? De não saberes se reconhecerão o teu trabalho, se reconhecerão o teu esforço. E, por tudo isto, sofres, e te sentes como um barco sozinho num mar imenso e agitado. E não ignoro que, muitas vezes, sentes uma profunda carência de amor. Quantas vezes pensaste em resolver definitivamente os teus conflitos no trabalho ou em casa. E nem sempre encontraste a receptivamente esperada ou não tiveste força para encaminhar a tua proposta. Eu sei o quanto te dói os teus limites humanos e o quanto às vezes te parece difícil uma harmonia íntima. E não poucas vezes, a descrença toma conta do teu coração.

Eu te compreendo... Compreendo até tuas mágoas, a tristeza pelo que te fizeram, a tristeza pela incompreensão que te dispensaram, pelas ingratidões, pelas ofensas, pela palavras rudes que recebeste. Compreendo até as tuas saudades e lembranças. Saudade daqueles que se afastaram de ti, saudade dos teus tempos felizes, saudade daquilo que não volta nunca mais... E os teus medos? Medo de perderes o que possuis, medo de não seres bom para aqueles que te cercam, medo de não agradares devidamente às pessoas, medo de não dares conta, medo de que descubram o teu íntimo, medo de que alguém descubra as tuas verdades e as tuas mentiras, medo de não conseguires realizar o que planejaste, medo de expressares os teus sentimentos, medo de que te interpretem mal. Eu compreendo esses e todos os outros medos que tens dentro de ti. Sou capaz de entender também os teus remorsos, as faltas que cometeste, o sentimento de culpa pelos pequenos ou grandes erros que praticaste na tua vida.

E sei que, por causa de tudo isso, às vezes te encontras num profundo sentimento de solidão. É quando as coisas perdem a cor, perdem o gosto e te vês envolto numa fina camada de indiferença pela vida. Refiro-me àquela tua sensação de isolamento, como se o mundo inteiro fosse indiferente às tuas necessidades e ao teu cansaço. E nesse estado, és envolvido pelo tédio e cada ação ou obrigação exige de ti um grande esforço. Sei até das tuas sensações de estares acorrentado, preso; preso às normas, aos padrões estabelecidos, às rotineiras obrigações: "Eu gostaria de... mas eu tenho que trabalhar, tenho que ajudar, tenho que cuidar de, tenho que resolver, tenho que!...". Eu te compreendo... Compreendo os teus sacrifícios. E a quantas coisas tens renunciado, de quantos anseios tens aberto mão!... E sempre acham que é pouco...

Pouca coisa tens feito por ti e tua vida, quase toda ela, tem sido afinal dedicada a satisfazer outras pessoas. Sei do teu esforço em ajudar às outras pessoas e sei que isso é a semente de tuas decepções. Sei que, nas tuas horas mais amargas, até a revolta aflora em teu coração. Revolta com a injustiça do mundo, revolta com a fome, as guerras, a competição entre os homens, com a loucura dos que detêm o poder, com a falsidade de muitos, com a repressão social e com a desonestidade. Por tudo isso, carregas um grau excessivo de tensões, de angústia e de ansiedade. Sonhas com uma vida melhor, mais calma, mais significativa. Sei também que tens belos planos para o amanhã. Sei que queres apenas um pouco de segurança, seja financeira ou emocional, e sei que lutas por ela.

Mas, mesmo assim, tuas tensões continuam presentes. E tu percebes estas tensões nas tuas insônias ou no sono excessivo, na ausência de fome ou na fome excessiva, na ausência de desejo para o sexo ou no desejo sexual excessivo. O fato é que carregas e acumulas tensões sobre tensões: tensões no trabalho, nas exigências e autoritarismos de alguns, nas condições inadequadas de salário e na inexistência de motivação, nos ambientes tóxicos das empresas, na inveja dos colegas, no que dizem por trás. Tensões na família, nas dependências devoradoras dos que habitam a mesma casa; nos conflitos e brigas constantes, onde todos querem ter razão; no desrespeito à tua individualidade, no controle e cobrança das tuas ações. Eu te compreendo, e te compreendo mesmo. E apesar de compreender-te totalmente, quero dizer-te algo muito importante. Escuta agora com o coração o que te vou dizer:

Eu te compreendo, mas não te apoio! Tu és o único responsável por todos estes sentimentos. A vida te foi dada de graça e existem em ti remédios para todos os teus males. Se, no entanto, preferes a autocomiseração ao invés de mobilizares as tuas energias interiores, então nada posso te oferecer. Se preferes sonhar com um mundo perfeito, ao invés de te defrontares com os limites de um mundo falho e humano, nada posso te oferecer.

Se preferes lamentar o teu passado e encontrar nele desculpas para a tua falta de vontade de crescer; se optastes por tentar controlar o futuro, o que jamais controlarás com todas as suas incertezas; se resolveste responsabilizar as pessoas que te rodeiam pela tua incompetência em tratar com os aspectos negativos delas, em nada posso te ajudar. Se trocaste o auto apoio pelo apoio e reconhecimento do teu ambiente, então nada posso te oferecer. Se queres ter razão em tudo que pensas; se queres obter piedade pelo que sentes; se queres a aprovação integral em tudo que fazes; se escolhestes abrir mão de tua própria vida, em nome do falso amor, para comprares o reconhecimento dos outros, através de renúncias e sacrifícios, nada posso te oferecer. Se entendeste mal a regra máxima "Amar ao próximo como a ti mesmo", esquecendo-te de amar a ti mesmo, em nada posso te ajudar.

Se não tens um mínimo de coragem para estar com teus próprios sentimentos, sejam agradáveis ou dolorosos; se não tens um mínimo de humildade para te perdoares pelas tuas imperfeições; se desejas impressionar os outros e angariar a simpatia para teus sofrimentos; se não sabes pedir ajuda e aprender com os que sabem mais do que tu; se preferes sonhar, ao invés de viver, ignorando que a vida é feita de altos e baixos, nada posso te oferecer. Se achas que pelo teu desespero as coisas acontecerão magicamente; se usas a imperfeição do mundo para justificar as tuas próprias imperfeições; se queres ser onipotente, quando de fato és simplesmente humano; se preferes proteção à tua própria liberdade; se interiorizaste em ti desejos torturadores; se deixaste imprimirem-se em tua mente venenosas ordens de: "Apressa-te!", "Não erres nunca!", "Agrade sempre!"; se escolheste atender às expectativas de todas as pessoas; se és incapaz de dar um não quando necessário, em nada posso te ajudar. Se pensas ser possível controlar o que os outros pensam de ti; se pensas ser possível controlar o que os outros sentem a teu respeito; se pensas ser possível controlar o que os outros fazem; se queres acreditar que existe segurança fora de ti, repito:

Eu te compreendo mas, em nome do verdadeiro Amor, jamais poderia apoiar-te! Se recusas buscar no âmago do teu ser respostas para os teus descaminhos, se dás pouca importância a teus sussurros interiores; se esqueceste a unidade intrínseca dos opostos em nossa vida terrena; se preferes o fácil e abandonaste a paciência para o Caminho; se fechaste teus ouvidos ao chamado de retorno; se perdeste a confiança a ponto de não poderes entregar tua vida à vontade onipotente de Deus; se não quiseste ver a Luz que vem do Leste; se não consegues encontrar no íntimo das coisas aquele ponto seguro de equilíbrio no meio de todas as tormentas e vicissitudes; se não aceitas a tua vocação de Viajante com todos os imprevistos e acidentes da Jornada; se não queres usar o tempo, o erro, a queda e a morte como teus aliados de crescimento, realmente nada posso fazer por ti.

Se aspiras obter proteção quando o que precisas é Liberdade; se não descobriste que a verdadeira Liberdade e a autêntica Segurança são interiores; se não sabes transformar a frase "Eu tenho que..." na frase "Eu quero!"; se queres que o fantasma do passado continue a fechar teus olhos para a infinidade do teu aqui e agora; se queres deixar que o fantasma do futuro te coloque em posição de luta com o que ainda não aconteceu e, provavelmente, não chegará a acontecer; se optaste por tratar a ti mesmo como a um inimigo; se te falta capacidade para ver a ti mesmo como alguém que merece da tua própria parte os maiores cuidados e a maior ternura; se não te tratas como sendo a semente do próprio Deus; se desejas usar teus belos planos de mudar, de crescer, de realizar, como instrumentos de auto-tortura; se achas que é amor o apego que cultivas pelos teus parentes e amigos; se queres ignorar, em nome da seriedade e da responsabilidade, a criança brincalhona que habita em ti; se alimentas a vergonha de te enternecer diante de uma flor ou de um por de sol; se através da lamentação recusas a vida como dádiva e como graça, não posso te apoiar.

Mas, se apesar de todo o sono, queres despertar; se apesar de todo o cansaço, queres caminhar; se apesar de todo o medo, queres tentar; se apesar de toda acomodação e descrença, queres mudar, aceita então esta proposta para a tua Felicidade: A raiz de todas as tuas dificuldades são teus pensamentos negativos. São eles que te levam para as dores das lembranças do passado e para a inquietação do futuro. São esses pensamentos que te afastam da experiência de contato com teu próprio corpo, com o teu presente, com o teu aqui e agora e, portanto, distanciando-te de teu próprio coração. Tens presentes agora as tuas emoções? Tens presente agora o fluxo da tua respiração? Tens presente agora a batida do teu coração? Tens agora a consciência do teu próprio corpo? Este é o passo primordial. Teu corpo é concreto, real, presente, e é nele que o sofrimento deságua e é a partir dele que se inicia a caminhada para a Alegria.

Somente através dele se encaminha o retorno à Paz. Jamais resolverás os teus problemas somente pensando neles. Começa do mais próximo, começa pelo corpo. Através dele chegarás ao teu centro, ao teu vazio, àquele lugar onde a semente germina. Através da consciência corporal, galgarás caminhos jamais vistos, entrarás em contato com os teus sentimentos, perceberás o mundo tal como é e agirás de acordo com a naturalidade da vida. Assume o teu corpo e os teus sentimentos, por mais dolorosos que sejam; assume e observa-os, simplesmente observa-os. Não tentes mudar nada, sê apenas a tua dor. Presta atenção, não negues a tua dor. Para que fingir estar alegre se estás triste? Para que fingir coragem se estás com medo? Para que fingir amor se estás com ódio? Para que fingir paz se estás angustiado? Não lutes contra teus sentimentos, fica do teu próprio lado, deixa a dor acontecer, como deixas acontecer os bons momentos. Pára, deixa que as coisas sejam exatamente como são.

Entra nos teus sentimentos sem os julgar, não fujas deles, não os evites, não queira resolvê-los escapando deles - depois terás de te encontrar com eles novamente, é apenas um adiamento, uma prorrogação. Torna-te presente, por mais que te doa. E, se assim fizeres, algo de muito belo acontecerá! Assim como a noite veio, ela também se irá e então testemunharás o nascer do dia, pois à noite o sol escurece até a meia-noite e, a partir daí, começa um novo dia.

Se assim fizeres, sentirás brotar de dentro de ti uma força que desconhecias e te sentirás renovado na esperança e a vida entrando em ti. Se assim fizeres, entenderás com o coração que a semente morre mesmo, totalmente, antes de germinar e que a morte antecede a vida. E, se assim fizeres, poderei dizer-te então que: Eu te Compreendo e que, assim, tens todo o meu apoio! E verás com muita alegria que, justamente agora, já não precisas mais do meu apoio, pois o foste buscar dentro de ti e o encontraste dentro da tua própria dor! A CAUSA É INTERIOR.

EU TE COMPREENDO - Osho











É importante que você olhe para os seus estados mentais negativos de modo que possa reconhecê-los. Toda pessoa tem de aprender a ver de que modo ela causa o seu próprio sofrimento, mantendo uma atitude negativa diante dos acontecimentos e das circunstâncias da vida. Se você não vê como faz isso, causará este sofrimento inconscientemente e então não compreenderá porque a sua vida é difícil. Você culpa as outras pessoas pelos seus problemas: os seus pais, a sua mulher, o seu marido, os seus filhos, o seu chefe e talvez até Deus.


Eu peço que você assuma a responsabilidade não apenas pelo que você faz, mas também pelo que você pensa. Eu peço que você compreenda o poder que os seus pensamentos têm para gerar estados emocionais negativos, dos quais se originam as ações equivocadas. Perceba como o pensamento de que ninguém o ama faz com que você não sinta amor pelas pessoas que, aos seus olhos, são amadas, e tenha inveja delas. Perceba com o pensamento e o estado emocional subseqüente dão origem a atos hostis, que afastam você das outras pessoas.

O pensamento "Ninguém me ama" torna-se uma profecia que acaba por se cumprir. Cultivando este pensamento, sentindo-se pouco amado e agindo de modo hostil com as outras pessoas, você se afasta do amor que tanto quer.

Da próxima vez que você tiver este pensamento, por favor, tome consciência dele. Se você perceber que está ficando deprimido, por favor, tome consciência disso. Se você falar ou agir de modo que o distancia das outras pessoas, por favor, tome consciência disso. Não se julgue mal por causa disso nem tente mudar coisa alguma. Só traga sua consciência para todo o ciclo dramático que vai do pensamento para a ação.

Perceba como os seus estados emocionais e mentais negativos provocam sofrimento na sua vida. Veja como a sua negatividade acaba por se confirmar. Toda vez que se distancia das outras pessoas, você dá substância à crença de que ninguém o ama. A verdade é que você não se sente amado.

Quando você vê o drama se desenrolando na sua frente, é mais fácil assumir a responsabilidade por ele. Então você passará a dizer a verdade a si mesmo. Quando o pensamento de que ninguém o ama lhe ocorrer, você o reconhecerá e o remodelará de um modo mais verdadeiro e responsável, dizendo, "Percebo que não estou me sentindo amado neste momento".

Em vez de tentar jogar no ombro das outras pessoas a responsabilidade por não se sentir amado, você assumirá a responsabilidade por esse sentimento. O mero fato de parar de responsabilizar os "outros" pelos seus estados mentais negativos e de assumir responsabilidade por eles é o começo da cura e da correção.

Quando se sabe que não está se sentindo amado, você naturalmente pergunta: "O que posso fazer para me sentir amado neste momento?" O que você constata ao formular essa importante pergunta é que o único jeito de suscitar o "sentimento" de que é amado é ter um "pensamento" amoroso. Os pensamentos amorosos causam um estado emocional positivo em que você se sente amado. E esse estado emocional positivo o leva a ter atitudes que restabelecem a sua ligação com as outras pessoas.

Ora, não importa se esse sentimento amoroso diz respeito a você mesmo ou a outra pessoa. Qualquer pensamento amoroso serve. O amor não é nem egoísta nem seletivo. Vale amar qualquer pessoa. Quando você oferece amor a outra pessoa, você também dá amor a si mesmo.

Quando o medo e a dúvida despertam na sua psique, você tem a opção de nutrir esses sentimentos ou não. Se nutri-los, você acabará acreditando que outra pessoa é responsável pela sua infelicidade e se sentirá incapaz de mudá-la. Se não nutrir os pensamentos negativos quando eles surgirem, você se lembrará várias e várias vezes de que você é responsável por tudo o que pensa, sente e vive. Se quer viver uma experiência diferente, você tem que escolher um pensamento diferente. Tem que substituir o pensamento de medo pelo sentimento de amor.

O que leva você a buscar incessantemente o amor das outras pessoas é o fato de não perceber que o amor só pode vir da sua própria consciência. Ele não tem relação com mais ninguém. O amor brota da sua disposição de ter pensamentos amorosos, de nutrir pensamentos amorosos e de praticar atos inspirados no amor e na confiança. Se estiver disposto a isso, a sua taça transbordará. Você terá constantemente o amor de que precisa e ficará encantado em oferecê-lo aos outros.

O manancial do amor está dentro do seu próprio coração. Não espere que os outros lhe dêem o amor de que você precisa. Não culpe os outros por não amá-lo. Você não precisa do amor das outras pessoas. Você precisa do seu próprio amor. O amor é a única dádiva que você pode conceber a si mesmo. Faça isso e o universo o apoiará. Não faça isso e o jogo de esconde-esconde continuará: você buscando o amor em todos os lugares errados.
Só existe um lugar onde você pode procurar o amor e encontrá-lo. Ninguém que o tenha procurado ali já se desapontou.
Paul Ferrini




Mais uma história de Preto Velho - Telefone


Em uma madrugada de quarta-feira, em meio à orla marítima, Pai Benedito preparava-se para o último atendimento fraterno daquela noite.



A lua cheia brilhava esplendorosa no céu quando o perispirito de uma senhora de aproximadamente sessenta anos de idade, mas de mente jovial, sentou-se à frente da entidade.


— Como vai suncê zifia?


— Apesar de preocupada eu até que vou bem, mas qual é o nome do senhor?


— Zifia o nome deste nêgo é Benedito, mas nêgo deve pedir licença a suncê pra dizer que o senhor tá no céu.


— Vovô desculpe-me, mas eu só o chamei de senhor para demonstrar respeito.


— Nêgo véio sabe zifia, mas para que fique tudo certo é que nêgo pergunta: eu também posso tratá-la respeitosamente chamando-a de senhora?


— Ah não vovô, se for possível eu gostaria que o senhor me chamasse apenas de Mercedes.


— Então tá tudo certo zifia: nêgo chama suncê de Mercedes e suncê chama nêgo de Benedito.


Respondendo com um sorriso nos lábios Mercedes disse a entidade:


— Está certo vovô!


— Mas conte pra nêgo o que trouxe suncê até ele minha filha!


— Vovô, veja bem, eu conversei com o meu filho e ele disse que na próxima gira do terreiro ele vai estar sentado lá na assistência.


— Que bom zifia! Muito formoso suncê levar mais um zifio pra conhecer uma das casas de caridade onde nóis trabalha em nome da Umbanda.


— Nem me fale vovô, pois eu não vejo a hora de chegar o dia da próxima gira no terreiro!


— Mas por que tanta ansiedade zifia Mercedes? O filho de suncê tá com algum problema?


— Foi bom o senhor ter tocado neste assunto vovô, por que, na realidade, quem está com um problema sou eu!


— Conta pra nêgo véio zifia!!!


— Bem, é que nos últimos meses eu tenho me sentido muito só lá na casa onde eu vivo com meu filho, minha nora e meu netinho.


— Como assim zifia?


— A solidão que eu sinto é mais por parte do meu filho, que quase não tem tempo para estar comigo. O meu esposo faleceu há poucos meses, mas eu o sinto muito mais presente na minha vida do que o meu filho que eu tanto amo!


— Zifia Mercedes, nêgo inté que entende suncê; só o que nêgo não entende é o porquê da sua ansiedade em que o seu filho vá à assistência do terreiro.


— Olha vovô a minha ansiedade é por que eu não vejo a hora de o senhor conversar com o meu filho Ramon sobre toda esta solidão que eu já venho sentindo há um bom tempo. O senhor poderia fazer isto?


— Zifia antes, por caridade, responde uma coisa pra nêgo.


— Sim senhor!


— Zifia se o seu filho Ramon, ao invés de morar junto com suncê, residisse numa terra bem distante como suncê haveria de fazer pra conversar com ele?


— Bem vovô, eu poderia usar o telefone.


— Telefone?


— É vovô! O senhor não conhece?


— Ver nêgo já viu só que nêgo não sabe como funciona; suncê pode explicar pra ele?


— Certamente vovô! O telefone é um aparelho de comunicação onde eu posso fazer contato com outras pessoas, tanto como emissora quanto como receptora de mensagens.


— Nossa zifia Mercedes esse tal de telefone é mesmo um aparelho muito importante, não é?


— É sim vovô!


— Zifia pelo que este nêgo tá entendendo o telefone é um aparelho que encurta a distância aproximando pessoas, é isto?


— Exatamente vovô!


— Zifia, se uma pessoa que suncê gosta muito e sente muito a falta de comunicação com ela morasse do lado da sua casa suncê ia preferir entrar em contato com ela pelo telefone ou pessoalmente?


— Olha vovô eu preferiria pessoalmente.


— Suncê pode contar por quê?


— Perfeitamente. Para mim nada é mais importante do que o contato pessoal com aqueles que são tão caros ao nosso afeto. O telefone é importante, mas não deve substituir o carinho, a troca de energia e afeto que só o contato pessoal sabe proporcionar inigualavelmente.


— Deixa nêgo ver se entendeu: suncê tá dizendo que o telefone serve para encurtar distâncias em relação às pessoas que estão longe de nós, porque para pessoas que estão próximas nada é melhor do que o contato pessoal é isto?


— Exatamente isso vovô!


— Zifia Mercedes, nêgo véio entende que suncê veio até aqui pedir auxílio, mas, por caridade, será que Benedito pode fazer mais uma pergunta pra suncê?


— Puxa vovô, não precisa nem pedir!


— Zifia, como suncê mesma pode ver este nêgo véio não é muito chegado a beleza, mas mesmo assim ele pergunta: será que Nêgo Dito é tão feio, mas tão feio que parece um telefone?


Completamente atônita Mercedes respondeu:


— Como é vovô?


— Nêgo véio parece um telefone zifia?


— Claro que não vovô! O senhor é completamente diferente!


— Completamente diferente?


— Completamente vovô!


— Então porque zifia Mercedes deseja transformar este nêgo véio num telefone de suncê?


— Não entendo vovô!


— Não é suncê que mora na mesma casa com o seu filho Ramon?


— Sim senhor.


— Ele não lhe é muitíssimo caro?


— É sim senhor.


— E se ele mora na sua casa isso não quer dizer que ele lhe é próximo?


— Exatamente!


— Suncê quer que ele saiba que suncê se sente só em relação a ele, não é isto?


— Exatamente!


— Então por que suncê não aproveita esta oportunidade de ouro que é viver ao lado dele e não lhe diz o quanto a ausência dele a está fazendo sentir-se sozinha, triste, com medo de ser abandonada? Quem é nêgo véio pra substituir suncê no coração do seu filho? Se suncê souber quando, como e o que falar as suas palavras terão muito mais valia no coração do filho Ramon, do que qualquer palavra que este nêgo disser a ele, pois aos olhos daquele zifio nêgo véio seria apenas um telefone.


Talvez seja pelo fato do preto-velho falar das coisas que vão ao coração de um jeito tão humilde, talvez seja pelas palavras daquela entidade terem ampliado a consciência de Mercedes, ou talvez seja mesmo pelo fato dela ter carregado aquele sentimento de abandono por tempo demais dentro do seu ser: a realidade é que nenhuma destas teorias é mais importante do que o pranto transmutador que brotou dos olhos de Mercedes, desafogando o peito dela do medo e clareando o seu mental.


Após alguns instantes, e já se sentindo bem melhor, Mercedes disse a entidade:


— Vovô, o senhor me disse que se eu souber quando, como e o que falar com o meu filho o resultado será benéfico para nós dois, mas como é que eu vou saber o que quando e como comunicar-me com o meu filho?


— Simples zifia: é só suncê fazer um telefonema antes de conversar pessoalmente com o filho Ramon!


— Telefonema? Mas o senhor não acabou de dizer que é melhor falar pessoalmente?


— Este telefonema que suncê vai fazer num é pro fio Ramon!


— Não!?!?


— Não! É pra Zambi-Nosso-Pai!


— Telefonar para Deus? Vovô, o senhor está falando sério?


— Claro zifia Mercedes!


— E como é que se telefona pra Deus?


— Um telefone não serve pra comunicação?


— Sim.


— E como comunicar-se com Deus?


— Ah, entendi vovô! Eu devo fazer uma prece a Deus, não é isso?


— Exatamente zifia!


— Só que eu já fiz inúmeras preces a Deus e até agora não consegui encontrar forças para falar da minha dificuldade com o meu filho, por isto é que eu fui trazida até aqui para falar com o senhor!


— Nêgo véio sabe disto zifia: os filhos de fé são os emissores dos pedidos de auxilio divino, Zambi é o receptor destes pedidos, a oração é o telefone e nós, que suncês chamam de entidades, somos os impulsos telefônicos!


— Pois é vovô a sua definição é, mais uma vez, brilhante em tanta simplicidade, mas o que o senhor quer me dizer, na realidade, é que eu devo fazer mais preces antes de conversar com o Ramon?


— Zifia, por caridade, cite pra nêgo pelo menos dois problemas que podem atrapalhar ou impossibilitar a comunicação num telefonema entre duas pessoas aqui na terra.


— Bem, quando o telefone está mudo isto impossibilita a ligação telefônica; já quando esta é estabelecida os chiados podem atrapalhar a comunicação.


— Muito bom zifia! Foi suncê que acabou de ser brilhante!


— Eu?


— É zifia! Suncê mesma acabou de responder por que não conseguiu forças pra conversar com o seu filho apesar de sua reiterantes rogativas a Zambi.


— Eu respondi vovô?


— É zifia! Suncê até hoje não obteve a resposta de Zambi em relação aos “telefonemas” que suncê faz a Ele por conta das interferências no telefone.


— Não entendi vovô! 


— Zifia Mercedes suncê mesma respondeu pra nêgo: quando o telefone está mudo a ligação fica impossibilitada.


— Desculpe, mas ainda não entendi vovô!


— Zifia muitas vezes quando suncê pega o telefone da oração pra fazer rogativas a Zambi ele está mudo e daì Zambi não recebe a mensagem de suncê!


— Quando é que isto acontece vovô?


— Quando sunce, por exemplo, faz a prece, mas se julga imerecedora de receber a benção, nêgo véio tá mentindo?


— Não senhor!


— O fato de emitir a oração com algum juízo de valor é o suficiente, por si só, pra torná-la muda, pois só Zambi-Nosso-Pai pode julgar o merecimento ou não de cada um em suas orações. 


— Estou entendendo vovô, mas será que o senhor também poderia contar-me a interferência que faz a minha oração ficar com “chiados” aos ouvidos de Deus?


— Perfeitamente zifia! É quando suncê faz preces com outros desequilíbrios nos campos da fé!


— O desequilíbrio nos campos da fé provoca chiados na oração a Deus: é isto?


— Exatamente, pois a oração é por si só, um ato de fé, não é verdade?


— É verdade, agora estou entendendo Pai Benedito!


— No seu caso, como suncê bem sabe, o desequilíbrio nos campos da fé que produz os chiados em suas orações é originário do medo que suncê tem que Deus lhe dote de forças pra conversar com o seu filho e de que você, depois de conversar com ele, seja tratada de forma indesejada pelo Ramon devido à incompreensão dele.


— Não vou negar o senhor tem razão, é verdade!!!


— Pois então minha filha mudar sua postura, seu estado consciencial, continuar a ter fé em Deus sem duvidar de seu próprio merecimento e capacidade são as condições que farão a qualidade dos seus telefonemas ser a melhor possível aos ouvidos de Zambi-Nosso-Pai, suncê entendeu?


— Sim senhor!


— Então vá na força e na luz de Zambi-Nosso-Pai!


— Que assim seja e muito obrigado vovô!


— Nêgo véio é que agradece zifia Mercedes, nêgo veio é que agradece!!!



Mensagem de Pai Benedito recebida por Pedro Rangel. 




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